Cooperativismo de crédito: democratizando o sistema financeiro no Brasil

Muito falamos sobre modernizar e caminhar para o futuro com as novas ferramentas que nos foram apresentadas. Não é dúvida que hoje possuímos diversas formas de alcançarmos nossos objetivos. Mas para isso, é preciso ter um incentivo. E muitas vezes, em sonhos e projetos, o incentivo necessário é o financeiro.

Porém, no país que é berço de grandes ideias, grandes ideias não ganham forma devido à falta de acesso ao sistema financeiro. Segundo o Instituto Locomotiva, em agosto de 2019 o Brasil possuía 45 milhões de desbancarizados. Ou seja, pessoas que não possuíam conta bancária em nenhuma instituição, e sendo assim, não podiam ter acesso a serviços como financiamentos e empréstimos.

O empreendedor que quer começar um negócio precisa de um investimento inicial, e o primeiro lugar a se buscar isso é o banco. Porém, as grandes instituições possuem processos burocráticos enormes, e que muitas vezes não resultam em nada para o empreendedor, que sai da agência sem conseguir nenhuma ajuda.

Nos últimos anos, porém, um novo fenômeno tem acontecido. As cooperativas de crédito têm expandido seu alcance gradativamente, chegando a mais de 5 mil agências espalhadas pelo país. Essa mudança tornou mais fácil para que milhares de pessoas tenham acesso a serviços financeiros, com taxas justas e condições que realmente ajudam no desenvolvimento do consumidor e do cooperado. Não é surpresa então que, segundo estudo da Americas Market Intelligence, o Brasil tenha visto uma queda de 73% no número de pessoas sem acesso ao sistema bancário.

Mas qual o papel das cooperativas nesse mundo? Como elas tem obtido tanto sucesso ao brigar de frente com instituições com bilhões em ativos e clientes já fidelizados? Ao adentrarmos o mundo das cooperativas de crédito vemos o porquê de o setor ter tido resultados espetaculares mesmo em meio à uma pandemia global.

A chegada de um novo modelo

Segundo dados do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, o Brasil já possui mais de 800 cooperativas de crédito, 34 centrais estaduais e 4 confederações. A participação do setor no sistema bancário brasileiro já chega a 10%, com uma meta de atingir 22% até o ano que vem. Entre os maiores sistemas estão o Sicoob, Sicredi, Unicred, Cresol e o Sistema Ailos, presidido por Moacir Krambek. Para Moacir, o Brasil tem plena capacidade para continuar a ser um berço do cooperativismo de crédito:

“Certamente o Brasil tem todas as condições de desenvolver um cooperativismo consistente e que beneficie muitas pessoas e empresas”, afirma. E continua: “Entendemos que pessoas e empresas necessitam de instituições financeiras que atuem como parceiros do seu desenvolvimento, proporcionando produtos e serviços financeiros de qualidade, preços competitivos e um atendimento que leve em conta primariamente as necessidades do cooperado”, completa.

Com o avanço dos serviços digitais, as cooperativas de crédito hoje possuem mais competição do que nunca. Se antes os principais concorrentes eram os cinco “bancões” já firmados na história do brasileiro, hoje o país vê o fenômeno das startups financeiras, que focam em soluções digitais, atendimentos rápidos e interação nas redes sociais para criar uma verdadeira base de fãs.

Porém, apesar dessa intensa interação digital, falta-lhes um verdadeiro fator humano, algo que pode ser visto na sala de espera da agência cooperativa e até no cafezinho servido ao cooperado. Momentariamente, os cafezinhos e os apertos de mão também tiveram que ser suspensos. Mas com a vacinação e um futuro retorno às atividades, o ramo de crédito terá novamente à disposição do cooperado, espaços prontos para o receber.

Apesar da competição forte, é nesse tratamento ao cooperado que as coops de crédito se diferenciam. Para Dr. José Maria de Azevedo, Presidente do Unicred, isso é o que torna um sucesso a expansão do setor. “O cooperativismo de crédito atualmente já se demonstra líder de mercado em algumas regiões do país. Entre os diferenciais que cada vez mais atraem novos cooperados está a participação nas decisões da cooperativa, o atendimento exclusivo personalizado, o direcionamento pela prosperidade coletiva e os serviços financeiros com taxas mais justas”, afirma. Ao oferecer um serviço que se encaixa com as necessidades do cliente, não o diminuindo a apenas um número, as cooperativas fidelizam de forma efetiva uma base de clientes que não só ganharão ao ter acesso a esses produtos, como também farão parte dos processos que incidem sobre suas próprias movimentações, e que assim, tem influência sobre seus resultados futuros.

Caminhando até o cooperado

Mencionamos com frequência as facilidades que o sistema bancário atual nos proporciona. Inúmeras ferramentas, soluções a distância de alguns toques…as inovações desse meio estão por toda parte. Porém, muitas pessoas ainda não se sentem seguras o suficiente pra entrar nesse mundo digital. Assim, é compreensível que, ao contrário dos grandes bancos, as cooperativas tenham aumentado o número de agências físicas espalhadas por todo o país. Dos grandes centros às pequenas cidades, o cooperativismo de crédito está presente para ajudar aqueles que precisam de seus serviços.

Recentemente incluída no Sistema OCB e no Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito (Ceco), a cooperativa Cresol tem continuado a ampliar sua presença de mercado. Segundo relatório divulgado, a coop teve um aumento de 234% no número de cooperados pessoa jurídica entre 2018 e 2019. Luiz Panzer, Diretor de Comunicação e Relacionamento da Cresol, revela que esses números são resultado do plano estabelecido para a cooperativa. “Incrementamos condições para atender todos os públicos. Esse movimento é fruto do planejamento da Cresol para o quinquênio 2016-2020. Também é parte da estratégia de posicionamento no mercado e nos negócios, atrelado a profissionalização dos quadros técnicos e os investimentos em tecnologias”, ele nos conta.

Com cada vez mais agências, o cooperativismo de crédito tem se tornado presente na maioria dos municípios brasileiros. Com seus produtos, que incluem investimentos e oferecimento de crédito, é certo o impacto monetário nas regiões em que uma agência cooperativa se instala. “É notório que as regiões que têm maior cultura de cooperativas possuem um IDH maior. A razão disso é simples. As cooperativas são organizações que se profissionalizaram, cresceram, preservaram a essência e tem como principal ação cuidar de pessoas”, afirma Panzer. Não apenas um impacto financeiro, as cooperativas ainda levam para essas regiões projetos sociais e educacionais, promovendo questões que vão muito além do simples oferecimento de serviços bancários.

Para criar uma relação entre população e cooperativa, técnicas e análises são criadas para adequar os serviços ao seu público. Assim, o cooperativismo – e não apenas do ramo crédito – consegue criar uma interlocução efetiva, desenvolvendo um laço com os seus cooperados. “Estamos sempre baseados na conquista da confiança e adesão de cada associado. E a dedicação está também no fortalecimento de condições e excelência de serviços para que a cooperativa seja a principal instituição financeira de seus cooperados”, conta José Maria Azevedo, do Sistema Unicred.

Assim, agência após agência, o cooperativismo de crédito tem alcançado diversos pontos do país, levando seus serviços para gente que nunca teve acesso a esse tipo de serviço que, para muitos de nós, é natural e sempre fez parte da vida em sociedade. Para Krambeck, a implementação de mais espaços físicos é, sem dúvida, um fator que agrega valor ao ecossistema como um todo, envolvendo não só aqueles que estão diretamente associados à cooperativa, como também ao resto da população que participa daquele círculo social. “Abrir uma unidade de atendimento em um município implica em contribuir economicamente com a região, seja por meio dos produtos e serviços e educação financeira que são oferecidos a todos, seja pela oportunidade de gerar empregos no próprio município”, afirma.

“As cooperativas de crédito se colocaram mais uma vez ao lado de seus cooperados, fazendo todo o possível para apoiar com soluções financeiras, principalmente os menos favorecidos” – Moacir Krambeck – Presidente do Sistema Ailos

Hoje, as cooperativas de crédito já ultrapassaram os resultados das instituições tradicionais. Mesmo diante da pandemia, o setor conseguiu resultados positivos através de muito trabalho e intercooperação. E, para o público que necessita dos serviços oferecidos pelo ramo de crédito, elas foram o ponto de virada para a recuperação pós-crise da Covid-19. Para Krambeck, apesar do distanciamento que foi necessário, as relações humanas estão mais fortes do que nunca. “As cooperativas de crédito se colocaram mais uma vez ao lado de seus cooperados, fazendo todo o possível para apoiar com soluções financeiras, principalmente os menos favorecidos. Nunca foi tão necessário estabelecer um relacionamento de confiança e parceria, pois o distanciamento social ocasionado pela pandemia se transformou em uma oportunidade de aproximação ainda maior”, afirma.

O novo “tradicional”

É incontestável que as cooperativas de crédito têm desempenhado um papel fundamental no funcionamento da sociedade civil. Indo até o seu cooperado e estando presente onde ele precisa, elas saem na frente ao priorizar uma abordagem mais humana das relações financeiras. Mesmo assim, dúvidas dominam os pensamentos de muitas pessoas. É seguro colocar meu dinheiro numa cooperativa de crédito? Vou ter todos os benefícios que teria num banco tradicional? E se acontecer alguma coisa com a instituição?

A boa notícia para quem está adentrando o mundo do cooperativismo de crédito é que: sim. Todos os produtos que você encontra em uma instituição já conhecida estarão presentes numa agência cooperativa. Ao pesquisar mais um pouco, o possível novo cooperado ainda verá que, apesar de possuir “apenas” 10% de participação no sistema bancário, as cooperativas seguem todas as normas e regulamentos instituídos pelo Banco Central.

Assim como explica Moacir Krambeck, Presidente do Sistema Ailos, as cooperativas possuem todo o portfólio de produtos financeiros. “Além da conta corrente, dispomos de diversas linhas de crédito, produtos de investimento e previdência, cartões de crédito e débito, produtos e serviços de pagamentos e recebimentos, além de diversas modalidades de seguros e consórcios”, ele conta.

Além de oferecer produtos para o cliente comum, que tem as suas necessidades diárias, o cooperativismo de crédito ainda tem grande participação no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Através de linhas de crédito rural, pequenos e médios produtores conseguem a assistência necessária para investirem e modernizarem sua produção, garantindo mais volume e qualidade para os seus produtos.

O futuro financeiro

Assim como em outros setores, o cooperativismo de crédito continua a mostrar seu poder de transformação. Além dos motivos visitados aqui, não é difícil entender o porquê de o setor ter conseguido cada vez mais sucesso e se colocado como uma alternativa real e efetiva aos sistemas tradicionais de crédito. Ao aproximar os dois lados da mesa, cooperados conseguem ver com mais clareza os benefícios de se buscar uma agência cooperativa e torná-la a principal (ou única) solução financeira para sua vida. É nesta relação de confiança que temos a resposta para os bons resultados do setor.

“Nós temos como principal ativo, os nossos cooperados. É deles que cuidamos e isso gera reciprocidade” – Luiz Panzer, Diretor de Comunicação e Relacionamento da Cresol

Luiz Panzer ressalta que a chave para o sucesso, é entender as necessidades do cooperado, e focar todos os esforços em ajudá-lo. “Nós temos como principal ativo, os nossos cooperados. É deles que cuidamos e isso gera reciprocidade. As pessoas encontraram na Cresol amparo, e não só financeiro. O grande aprendizado foi entender que não existe um único jeito de fazer as coisas, sempre precisamos inovar, tendo ou não dificuldades sanitárias”, afirma. Ao desafiar os intitulados “modelos tradicionais”, o cooperativismo tem identificado as falhas no sistema, e criado soluções para cada vez mais, integrar os desbancarizados, os mais pobres e aqueles que não buscam auxílios milionários que trarão ganhos apenas para o banco.

Assim, investindo em tecnologia, mas também em força humana, o cooperativismo de crédito tem se firmado como uma resposta para a histórica exclusão financeira que o Brasil possui. Mais do que isso, o setor não só busca ajudar no quesito monetário, como também – assim como os próprios princípios cooperativistas determinam – no campo social. Desta forma, em uma intensa relação de intercooperação, o investimento realizado pelos cooperados passam a ser uma alavanca para a sociedade como um todo. Nos impulsionando em direção a um futuro financeiro mais inclusivo e justo.

Por Leonardo César – Redação MundoCoop

Fonte: mundocoop.com.br

 

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