Lições da Babilônia: Faça do lar um investimento lucrativo, por Chael Mazza e Elvira Cruvinel

“(…) Assim, muitas bençãos recaem sobre o homem que tem sua própria casa. E isso reduz em muito as suas despesas, permitindo que uma parte maior de seus ganhos seja destinada aos prazeres e à satisfação dos desejos. E aí está a quinta lição para a falta de dinheiro: tenha o seu próprio lar”. (CLASON, 1926:51).

Desde os antigos babilônios, a moradia representa um gasto significativo no orçamento doméstico, ao mesmo tempo em que é um elemento importante na qualidade da vida familiar.

Por isso, ter uma casa própria representa uma grande economia no orçamento mensal e abre portas para novas oportunidades de investimento. Assim, a quinta lição dos babilônios sobre lidar com o dinheiro trata exatamente desse nobre investimento.

Por muito tempo os imóveis foram a forma predominante de se investir. São seguros, não podem ser furtados e são à prova de crises econômicas. Além disso, em geral, aumentam de valor ao longo do tempo, o que os tornam atrativos.

Contudo, como adquirir esse lar? Você pode receber a casa como herança, pode alugar, pode comprar. Para comprar, pode juntar o dinheiro e pagar à vista, ou pode financiar, de diversas formas.

Comprar ou alugar? Eis a questão.

Uma dúvida muito comum, hoje, é se é melhor comprar ou alugar um imóvel. E a resposta, como quase tudo na vida, é: depende. Isso mesmo, depende de uma série de fatores e da situação de vida de cada um. Mas, comecemos a explorar isso de forma mais detalhada.

Primeiro, há que se destacar que a motivação para se comprar um imóvel vai muito além da questão financeira. Uma casa pode representar uma segurança para a família, uma reserva de valor, um sonho realizado, uma sensação de liberdade.

Desta forma, se uma casa própria para você significa mais do que apenas dinheiro, você deve sim buscar a melhor forma de adquiri-la. O ideal é juntar o dinheiro necessário para comprar à vista, de forma que não gerará despesas. Essa é a melhor forma de adquirir sua casa.

Mas, se você não possui o dinheiro necessário para pagar de uma vez e nem pode esperar até juntar, a saída é financiar ou alugar. Diante desses dois cenários, o que se observa é que, do ponto de vista financeiro, alugar costuma ser bem mais vantajoso do que financiar. Contudo, repito: isso é apenas do ponto de vista financeiro.

Se suas motivações para aquisição de sua casa vão muito além do fator dinheiro, então não há o que se preocupar. Busque apenas fazer o financiamento mais benéfico para você. Agora, se você faz parte do grupo que não se apega muito a imóveis, ou que inclusive gosta da sensação de alugar e assim poder morar em diferentes lugares, diferentes cidades, e até países, ao longo da sua vida, então alugar é, sem dúvida, a melhor saída para você.

Financiamento é saudável?

Na maioria absoluta dos casos, contrair dívidas não é saudável. Mas, se o fizer de forma organizada, poderá aproveitar algumas oportunidades.

Existem vários fatores que impactam um financiamento. Em geral, é uma forma de adiantar a você um dinheiro que você não tem para que possa comprar sua casa própria.

O problema com esse adiantamento é que você paga juros, o que pode representar pagar duas ou três vezes o valor do imóvel, dependendo das condições do financiamento. Assim, se você está buscando essa solução para realizar seu sonho, aqui vão algumas dicas na hora de fazer um financiamento imobiliário:

1) Procure as menores taxas de juros

O tipo de empréstimo onde os juros fazem a maior diferença é justamente o financiamento imobiliário. Isso porque são empréstimos de longuíssimo prazo e os juros, no longo prazo, são bem altos. Aqui cada ponto percentual vai fazer uma enorme diferença; então, negocie a menor taxa de juros possível nessa hora. Aproveite as épocas de Taxa Selic baixa – como agora, as mais baixas da nossa história – para encontrar as melhores taxas de juros para financiamento imobiliário. E, depois de realizado o financiamento, acompanhe o mercado para, se ou quando for o caso, utilizar a portabilidade para buscar um financiamento mais vantajoso.

2) Pague no menor prazo possível

Pelas mesmas razões da anterior, quanto menor for o prazo do financiamento, menos juros você pagará. Então, não se deixe seduzir por aquela prestação baixa em um financiamento de vinte ou trinta anos, pois você acabará pagando muito mais do que vale o imóvel. Escolha a maior prestação que caiba no seu bolso – não mais do que 30% do seu salário, como regra básica – e procure pagar o imóvel o mais rapidamente possível. Aproveite algum dinheiro extra, como adicionais de férias e o 13º salário, para ir abatendo as prestações sempre que puder e, assim, verá o quão rápido a dívida diminui.

3) Quanto maior o valor da entrada, melhor

É impressionante como o valor das prestações e dos juros diminuiu se você der uma entrada alta no financiamento do seu imóvel. Isso porque, quanto maior a entrada, menor é o valor do dinheiro que você está pegando emprestado e, consequentemente, menores serão os valores pagos a título de juros. Faça, então, um esforço e junte dinheiro para começar bem. Verá rapidamente a diferença que isso faz.

Imóvel é investimento?

A maioria das pessoas adquire um imóvel para ser sua casa, seu lar. Isso pode ser bastante vantajoso se você souber usar o dinheiro que está economizando com aluguel ou prestação para gerar mais dinheiro para você.

Se você terminou de pagar seu financiamento e já está acostumado a separar aquele valor da prestação todo mês, continue separando esse dinheiro. A diferença é que ao invés de usar para pagar uma dívida, você utilizará para investir, gerando mais renda para você e construindo uma reserva de valor.

Existem, porém, outras formas de transformar seu lar em um investimento lucrativo. A primeira delas é justamente na hora de escolher qual imóvel comprar.

Imóveis, de forma geral, possuem uma capacidade de se valorizar ao longo do tempo. Contudo, isso depende de uma série de fatores: a região está crescendo? Podem construir algo próximo que vai valorizar ou desvalorizar os imóveis? É uma boa região para se morar ou está em decadência? O imóvel é novo ou precisa de reforma? Está perto de pontos importantes da cidade?

Todos esses e muitos outros fatores devem ser levados em consideração na hora de adquirir um imóvel e aqui a dica é simples: conheça seu imóvel. Evite cair na tentação de comprar um imóvel por dicas de amigos e colegas ou porque achou bonitas as fotos dos jardins e piscina em alguma propaganda. Ao invés disso, procure conhecer o imóvel e sua região, converse com moradores e explore as opções disponíveis. Não decida comprar em 20 minutos algo que você demorará 20 anos para pagar.

Essa é a estratégia utilizada pelos investidores de imóveis, que buscam comprar um imóvel para poder vendê-lo no futuro a um preço bem maior.

Outro ponto a se destacar é que um imóvel é um investimento capaz de gerar renda mensal na forma de aluguel. Assim, caso você prefira, pode ir comprando imóveis e utilizando o dinheiro recebido na forma de aluguel para ir abatendo nas próximas prestações. Dessa forma, irá acumular imóveis que garantirão uma ótima renda passiva no futuro. Inclusive essa é uma opção para se comprar um imóvel melhor. Deixe seu imóvel alugando e utilize o valor do aluguel para abater na prestação do próximo financiamento.

A única ressalva aqui é a de lembrar que às vezes imóveis ficam vazios –contratos acabam, inquilinos saem etc. Então, deixe um dinheiro guardado, de preferência seis vezes o valor do aluguel, para enfrentar esses cenários sem problemas.

Uma outra forma de se investir em imóveis são os fundos imobiliários. Esses fundos nada mais são do que o resultado de um conjunto de pessoas que se juntam para comprar imóveis maiores – por exemplo shopping centers ou galpões industriais. Dessa forma, você passa a receber aluguel de forma proporcional ao tanto de dinheiro que colocou no fundo. E o legal é que dá para comprar cotas desses fundos diretamente na bolsa de valores. Mas isso é assunto para um próximo artigo.

E, no final das contas?

É sempre bom lembrar que um lar vai muito além da questão financeira. É um local onde você se sente seguro e respeitado. Onde você cria uma atmosfera de amor e carinho para sua família. Onde você passará uma boa parte do seu tempo. Então, busque-o da melhor forma possível. Seja comprando, alugando ou financiando, procure um lugar que o faça feliz. Isso terá um impacto diário na sua qualidade de vida.

Chael é doutor em Administração pela UNB e criador do @curtafinancas no Instagram. Elvira é doutora em Administração pela FGV e possui ampla experiência com educação financeira. O conteúdo do artigo é de inteira responsabilidade dos autores, não representando posicionamento da instituição em que trabalham.

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