História do Cooperativismo » Idealizadores do Cooperativismo

Conheça aqui os líderes inspiradores do cooperativismo mundial e brasileiro

Robert Owen

Nasceu em Newton, pequeno lugarejo do Condado de Montgomery (Inglaterra), em 14/05/1771. Aos 9 anos de idade já havia lido os clássicos da literatura da época, permitindo discutir questões filosóficas. Em 1781 iniciou como comerciante de tecidos, aprendendo as técnicas de fiação e passou de aprendiz a co-proprietário de tecelagens. Começa a fazer parte da “Lit and Phil” de Manchester, sociedade de intelectuais e cientistas.

Em 1799 casou-se com Caroline Dale, filha de um industrial e filantropo de Glasglow (Escócia), com quem se inspirou e desenvolveu ideias de reforma social. Para Owen a idéia de trabalho como fonte de felicidade e medida de valor era o principal alicerce ao princípio da cooperação. Decepcionado com outros empresários e governo, dirigia-se diretamente aos operários tentando a reforma social pela associação comunitária.

Na empresa em que trabalhava, em New Lanark, na Escócia, Owen observou que a maioria das pessoas trabalhava e vivia em péssimas condições de higiene e moradia. Tornou-se sócio da empresa (1800) e ali instalou uma comunidade inspirada nos ideais utópicos: melhorou as casas, criou um armazém em que se podiam comprar mercadorias a preço módico, promoveu o estrito controle das bebidas alcoólicas reduzindo o vício e o crime, e fundou a primeira escola maternal britânica (1816).

Montou uma fiação no centro de uma comunidade operária (1817), com Jeremy Bentham e o quacre William Allen, e promoveu a organização de serviços comunitários de educação, saúde e assistência social. A comunidade passou, então, a se autogerir com todos os integrantes pertencendo à mesma classe. No lugar de dinheiro circulavam vales correspondentes ao número de horas trabalhadas. Rico e influente empenhou-se junto aos poderes públicos para melhorar as condições de trabalho, reduzir a jornada e regulamentar o trabalho de menores, pregou a formação de cidades-cooperativas, ou comunidades autônomas de trabalhadores, como solução para a questão social.

A repercussão de sua obra ultrapassou as fronteiras do país, e chamaram a atenção sobretudo suas inovações pedagógicas: jardim de infância, escola ativa e cursos noturnos. Fundou outras comunidades como as de Orbiston, perto de Glasgow e transferiu-se para os Estados Unidos (1824) a fim de pôr à prova suas idéias, onde fundou a comunidade de Nova Harmonia, em 1828, no Estado de Indiana na América, na qual não obteve sucesso e ainda perdeu praticamente toda sua fortuna.

Voltou ao Reino Unido (1829) onde organizou uma rede de cooperativas e um sistema de bolsas de trabalho e promoveu uma vasta união sindical (1834). Tornou-se espiritualista (1852) e morreu em sua cidade natal. Seu livro mais importante foi The New Moral World (1834-1845) e foi o primeiro a usar a palavra socialismo, para denominar sua doutrina.

A repercussão da obra de Robert Owen em New Lanark atingiu todo o mundo civilizado, sendo convidado pela Academia Francesa em 1848 para conhecer a França, onde expôs seu plano sob o título de “Curta Exposição de um Sistema Social Racional”.

Foi o precursor do sistema e hoje é conhecido como o “Pai do Cooperativismo Moderno”. Robert Owen faleceu em 17 de novembro de 1858 e suas idéias serviram de inspiração aos Pioneiros de Rochdale.

William King

William King (1786 – 1865) nasceu em Ipswich, na Inglaterra e atuou como médico e também professor em Brighton. Recebeu inspiração de Robert Owen por ter tido contato com William Allen, sócio de Owen em New Lanark. Em 1827 fundou uma cooperativa chamada “Brighton Co-operative Benevolent Fund Association” que tinha dois objetivos: a) levantar capital para permitir que pessoas sem condições financeiras ingressassem em sociedades cooperativas; b) difundir o conhecimento do sistema cooperativo. Faziam parte desta cooperativa alguns ex-alunos do Dr. King que haviam sido inspirados por suas ideias cooperativas e associativas. No mesmo ano foi fundada uma associação comercial cooperativa (Cooperative Trade Association), com o objetivo de viabilizar compras coletivas. Entre os associados estavam trabalhadores agrícolas, carpinteiros, pedreiros, marceneiros, jardineiros, padeiros, alfaiates, e tantas outras profissões, que poderiam, unidos, realizar todos os ofícios exigidos em uma comunidade. A iniciativa permitia que esses associados agissem de forma independente em relação aos capitalistas da época. Mas, a maior contribuição de King ainda estaria por vir. Em 1928 ele começou a publicar uma pequena revista mensal chamada The Co-operator (veja o link), cujo objetivo era tornar os princípios da cooperação inteligíveis para a classe trabalhadora. Ocorre que os precursores do cooperativismo, que antecederam a King, não tinham uma linguagem fácil que permitisse a pessoas comuns entenderem o que significava cooperação mútua, trabalho conjunto e igualdade de condições. King, logo no início de sua revista, dirigiu-se aos trabalhadores em uma linguagem que todos pudessem entender, demonstrando como eles poderiam melhorar suas condições trabalhando em conjunto.

Herman Schultze

Franz Hermann Schulze DelitzschHerman Schultze nasceu na cidade de Delitzsch, Alemanha, em 1808, onde exerceu a função de magistrado. Nas dificuldades econômicas, principalmente de 1846 a 1848, distinguiu-se pelo desempenho em atividades filantrópicas.

Seu maior êxito foi a organização de Bancos Populares, especialmente entre os artesãos que não conseguiam crédito a juros reduzidos. Em 1863 preparou um projeto de auxílio mútuo, apresentando-o ao Parlamento Prussiano. Em 27/03/1867, com base nesse projeto, foi promulgado o primeiro Código Cooperativo da Alemanha e do mundo. Herman Schultze faleceu em 1883.

Leia mais sobre a história dos precursores clicando aqui.

Friedrich Raiffeisen

Friedrich Wilhelm RaiffeisenFriedrich Willhelm Raiffeisen era natural da Hamm (Alemanha) e nasceu em 1818. Durante os anos difíceis de 1847 a 1848, organizou sociedades de auto-ajuda na Alemanha que mais tarde serviram de base para a fundação de cooperativas de crédito rural com o objetivo de atender as necessidades dos agricultores.

Raiffeisen teve atuação na vida pública, tendo sido burgomestre (prefeito) em um grupo de cidades próximas de Neuwied, na Alemanha, na região hoje conhecida como Renânia Palatinado. Em 1852, Raiffeisen foi eleito prefeito de Heddesdorf, formada por 12 cidades com população total de 9.000 habitantes. Tratava-se de uma região maior e manufatureira, onde teve de enfrentar a situação de miséria dos trabalhadores. Haviam mais pessoas procurando emprego do que vagas disponíveis. Salários de fome eram o resultado desta situação. Até mesmo as crianças eram obrigadas a assumir longas jornadas de trabalho para ajudar no sustento das famílias. Órfãos e maltrapilhos eram vistos por toda a parte, invasões e assaltos com roubos faziam parte do dia-a-dia. Muitos pequenos empresários também estavam em grave crise de sobrevivência, por causa dos endividamentos.

Naquela região, Raiffeisen experimentou situações de solidariedade e caridade, como a Associação Caritativa de Heddesdorf (Heddesdorfer Wohltätigkeitsvereins), fundada em 1854, por 58 pessoas e que, por meio da ajuda mútua, concedia empréstimos a juros baixos. Esta entidade serviu de modelo às sociedades de empréstimos fundadas anos mais tarde e que assumiriam o nome de Raiffeisenbank, sendo  a primeira delas fundada em 27/03/1862, em Anhausen, chamada de Associação de Empréstimos de Anhausen (Darlehnkassen-Vereine von Anhausen), seguida, em 1864, em Heddesdorf, pela Associação de Empréstimos de Heddesdorf (Heddesdorfer Darlehnkassen-Verein), ambas na região da Renânia Palatinado.

Em 1866, com o auxílio de sua filha, ele publicou um livro intitulado “Sociedades de empréstimos como meio de eliminar a pobreza entre a população rural e artesãos e trabalhadores urbanos” (Die Darlehnskassen-Vereine als Mittel zur Abhilfe de Noth der ländlichen Bevölkerung fowie auch der städtischen Handwerker und Abteiter – acesse pelo link), que delineou as instruções e os princípios orientadores para a criação de cooperativas de crédito. Este livro foi traduzido para várias línguas e acabou nas mãos de Alphonse Desjardins, que vivia em Lévis, Québec, no Canadá, e que em 1900 constituiu a primeira cooperativa de crédito das Américas.

Charles Gide

Nasceu em Uzès (França), em 1847, numa pequena vila vizinha da cidade de Nimes. Foi Gide um dos principais sistematizadores da doutrina cooperativa, o mais destacado líder do Cooperativismo de Consumo, participante de uma escola de pensamentos em Nimes que liderava os rumos do sistema na França.

Em 1884 rompeu com a economia política clássica e no ano seguinte, pronunciou um discurso de abertura no 11º Congresso Cooperativo, realizado em Lyon. Sua proposta era fundar grandes armazéns de atacado para operar vendas em grande escala numa primeira etapa. Posteriormente, sua proposta era produzir tudo o que era necessário à sociedade e, depois, dominar a produção agrícola.

Segundo as próprias palavras: “eu lhes mostrei um fim imediato e presente: a educação econômica da classe operária pela associação cooperativa; e um fim mais distante: a emancipação da classe operária pela transformação do salário”.

Gide foi professor de economia política no Colégio da França, professor honorário da Faculdade de Direito de Paris, representante do Cooperativismo francês em vários congressos da Aliança Cooperativa Internacional. Foi, também, autor de várias obras e publicações em revistas especializadas. Gide faleceu em 1932 interrompendo o sonho da “República Cooperativa”.

Luigi Luzzatti

Nasceu em 1841 em uma família israelita de Veneza (Itália). Foi político, professor universitário, orador e autor de obras econômicas. Na juventude estudou em Berlim, Alemanha, onde conheceu Herman Schultze e adquiriu conhecimentos sobre o Cooperativismo de Crédito Urbano. Em 1863 publicou “A difusão do crédito e o Banco Popular”, no qual expôs as suas primeiras idéias sobre as Cooperativas de Crédito.

O sistema criado por Luzzatti foi inspirado no de Herman Schultze, com adaptações para a realidade da Itália. Os primeiros Bancos Populares foram fundados por Luzzatti na Itália a partir de 1864. “Ajuda-te, Deus e o Estado te ajudarão” se tornou o lema Luzzattiano.

Luzzatti morreu em 1927 e seu modelo de cooperativa, no Brasil, vem sofrendo pressões por parte das autoridades. A primeira cooperativa neste modelo a ser constituída no Brasil foi a do município de Lajeado (Sicredi Vale do Taquari RS), Rio Grande do Sul, em 1905, pelo padre Teodor Amstadt.

Alphonse Desjardins

Alphonse DesjardinsFoi o criador do Cooperativismo de Economia e Crédito Mútuoe nasceu no povoado de Levis, província de Quebec no Canadá, em 1854. Graduou-se em 1870 e ingressou no jornalismo, interessando-se pelas causas sociais, com destaque para o problema da usura e da pobreza. Em viagem pela Europa estudou o sistema de Cooperativismo de Crédito desenvolvido na Alemanha (Raiffeisen) e na Itália (Luzzatti).

Com base nesses conhecimentos criou as Caixas Populares entre os canadenses, que eram abertas, permitindo a filiação de todas as pessoas da comunidade. As Caixas Populares Desjardins entraram nos Estados Unidos e sofreram alterações, formando as Cooperativas de Crédito fechadas, que só admitem sócios que sejam funcionários de uma mesma empresa ou que pertençam à mesma categoria profissional.

O sistema CUNA entrou para o Canadá e se expandiu pelas províncias de língua inglesa, inclusive em Antigonish na Nova Escócia, cujo modelo serviu de inspiração para Maria Thereza Teixeira Mendes criar, a partir de 1960, as Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo Brasileiras.

Desjardins faleceu em 31/10/1920 deixando mais de 140 Caixas Populares em atividade, agrupando 30.000 membros e ativos.

Leia Desjardins – Modelo Canadense

Edward Filene

Nascido em 1860 na cidade de Salen, em Massachussets (EUA). Foi o Secretário de Estado americano, que em visita a Moscou em 1921 disse ao Premier soviético, Wladimir Ilitch Lenin, que “se tivesse um filho que até os 21 anos de idade não fosse socialista, ele o deserdaria; e que, se este permanecesse socialista após os 21 anos, também seria deserdado”. Desde cedo trabalhou para a manutenção da família.

Dedicado, juntou grande fortuna como comerciante, fato que não o impediu de lutar por uma distribuição da riqueza mais justa. Dando o exemplo, doou parte da sua fortuna pessoal para o desenvolvimento das Cooperativas de Crédito em seu país: as Credit Unions.

A idéia de união de créditos foi descoberta por Filene em uma de suas viagens para a Índia em 1907. De volta para casa, estudou o assunto e, em 1909, colocava em atividade a primeira Cooperativa de Crédito Geral de Boston.

Em 1921, incentivou a busca de legislações federais e o aumento de leis estaduais sobre Cooperativismo. Filene criou o Departamento Nacional de Cooperativas de Crédito, com a ajuda de Roy Bergengren e investiu mais de um milhão de dólares de seu próprio dinheiro nesse projeto de vida.

Roy Bergengren

Foi um advogado de Massachussets (EUA) contratado por Filene para organizar Cooperativas de Crédito nos Estados Unidos e trabalhar para conseguir legislação favorável ao sistema com abrangência para todo o País.

Viajou pelos EUA fazendo lobby junto as Assembléias Legislativas para promulgarem leis favoráveis às Cooperativas de Crédito. Após ter conseguido seu intento em 45 estados americanos, trabalhou no Congresso Americano em Washington, conseguindo a promulgação de uma lei federal a favor do Cooperativismo.

Na sua cruzada pelos USA fundou milhares de Credit Unions, estando entre estas, a Cooperativa de Crédito dos Empregados da CUNA, fundada em 28/08/1935, em Maddison, no Wisconsin, sendo seu primeiro presidente.

Theodor Amstadt

Theodor AmstadSuiço e Padre jesuíta, desembarcou em Porto Alegre no ano de 1885 aos 34 anos. Foi designado para atividades pastorais entre colonos e tornou-se importante líder rural e cooperativista. Sua atuação se destaca, principalmente na criação e funcionamento da Associação Riograndense de Agricultores. Foi fundador da primeira Cooperativa de Crédito no Brasil em 1902, modelo Raiffeisen (conheça a história da SICREDI Pioneira RS) no município de Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul.

Durante 53 anos atuou como sacerdote e promotor do bem estar sócio-econômico dos agricultores.

Diretamente fundou 15 Cooperativas de Crédito entre 1902 e 1923.

A partir desta data até 1928, colaborou na constituição de outras 26 Cooperativas. Trabalhando para a consolidação do sistema, contribuiu para a criação da primeira Central de Cooperativas de Crédito do Brasil, em 1925, em Porto Alegre, falecendo em 1938.

Maria Thereza Teixeira Mendes

Filha de tradicional família do Rio de Janeiro, escreveu seu nome na história do Cooperativismo. Em 1960 foi fundadora da primeira Cooperativa de Crédito Mútuo do Brasil: Cooperativa de Crédito Mútuo dos Empregados da CNBB, com 80 cooperados.

Em agosto de 1961, surgiu a Federação Leste Meridional das Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo, a FELEME. Nos anos seguintes, sob o comando de Terezita, mulher pequena mas de fibra e persistência férrea, a FELEME deslanchou. A FELEME transformou-se em uma mística e, mesmo sendo substituída por Federações nos Estados, ainda deixa marcas nos Congressos da Confebrás.

Fonte: OCB/ES

1 comentário

  1. Nossa! Que show toda essa história, e melhor ainda saber que teve uma mulher como protagonista também e além do mais brasileira!

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