Por que a Alemanha é referência para o cooperativismo financeiro mundial?

Por livre e espontânea vontade, em 1972, as cooperativas de crédito alemãs decidiram parar de competir entre si e uniram forças para conquistar o mercado. Desde então, elas integram um sistema unificado, sob o comando da Federação Nacional dos Bancos Cooperativos, a BRV (sigla de Bundesverband der Deutschen Volksbanken und Raiffeisenbanken), provando que o sonho da intercooperação pode, sim, virar realidade.

Com um terço da população do país em sua base de clientes e cerca de 20% do mercado de depósitos e empréstimos, o sistema financeiro cooperativista alemão se consolidou a partir de um modelo baseado em organização estruturada, auditoria e gestão de risco. Resultado? As cooperativas do país são sólidas, e nenhuma quebrou nos últimos 85 anos.

Confira, a seguir, os 5 principais diferenciais do cooperativismo de crédito da quarta maior economia do mundo:

1 – Um só sistema

Todas as cooperativas financeiras alemãs, chamadas de bancos cooperativos, são afiliadas à BRV. A tradução do nome da confederação, Bundesverband der Deutschen Volksbanken und Raiffeisenbanken, quer dizer justamente União dos Volksbank e Raiffeisenbank, dois dos grupos que integram o sistema. Com a intercooperação, a rede financeira cooperativa alemã hoje chega a 30 milhões de clientes, quase um terço da população do país.

Como organização de cúpula das instituições de crédito cooperativas da Alemanha, a BRV representa os interesses da rede a nível nacional e internacional, coordena e desenvolve a estratégia que será seguida em comum pelos bancos cooperativos, presta assessoria jurídica, tributária, fiscal e econômico-financeira às associadas e mantém o Sistema de Proteção Cooperativista, que atua como um fundo de prevenção.

A organização do sistema cooperativista financeiro em torno de uma liderança unificada envolveu um forte processo de fusões e incorporações que reduziu em 85% o número de singulares em cinco décadas, sem comprometer a representatividade dos bancos cooperativos em todas as regiões do país.
A integração permite que os bancos cooperativos mantenham suas marcas e características, mas tenham a estrutura de retaguarda compartilhada. O modelo otimiza custos para os associados e aumenta a competitividade das coops no concorrido mercado alemão.

2 – Organização simplificada

A organização é uma das marcas da cultura corporativa alemã e não seria diferente no cooperativismo de crédito. A base do sistema coordenado pela BVR são os Bancos Populares (Volksbank), os Bancos Raiffeisen (livre admissão de associados), e os Sparda-Bank e PSD Bank, que atuam em nichos específicos.A rede financeira cooperativa também inclui bancos da igreja e instituições especializadas.

No segundo nível do cooperativismo de crédito alemão estão o WZG Bank (Banco Cooperativo Central do Oeste) e escritórios regionais do DZ Bank AG, o Banco Cooperativo Central, que atuam na gestão da liquidez, refinanciamento e atividades como comércio internacional.

Os bancos cooperativos locais e o WGZ Bank são os principais acionistas do Banco Cooperativo Central, o DZ Bank AG, que representa o terceiro nível do sistema e está entre as 60 maiores instituições bancárias do mundo.

3 – Bancos abertos

Na Alemanha, as cooperativas de crédito atuam como bancos e têm as mesmas obrigações e prerrogativas do sistema bancário tradicional. Por isso todas as coops financeiras alemãs são chamadas de bancos cooperativos. Com 772 cooperativas e mais de 8 mil pontos de atendimento, a rede cooperativista tem mais 18,2 milhões de cooperados e 11,8 milhões de clientes. É isso mesmo, os bancos cooperativos alemães são universais, ou seja, também são abertos a clientes que não são sócios. Os dados são da DGRV.

Com essa abertura e sendo uma das maiores redes de serviços financeiros da Europa, os bancos cooperativos fazem com que o crédito chegue a todos, em qualquer parte do país e em todas atividades econômicas. Em 2021, os bancos coops alemães movimentaram 944 bilhões de euros em crédito e 925 bilhões de euros em depósitos, também segundo a DGRV.

4 – Auditoria cooperativa

Todas as coops financeiras da Alemanha passam por auditoria externa independente obrigatória feita por seis federações cooperativas. As inspeções são feitas pelo menos uma vez por ano e além da situação econômico-financeira e os dos demonstrativos contábeis, avaliam a qualidade da gestão e dos controles e o nível de compliance.

No sistema alemão, a auditoria tem uma função preventiva, de correção no curso econômico das cooperativas para prevenir e solucionar problemas durante o processo de gestão e evitar liquidações.

As auditorias são feitas em duas etapas: na primeira são avaliadas as operações de crédito, bases legais, econômicas e organizacionais e a atuação dos órgãos de governança. Na segunda fase, são avaliadas as demonstrações contábeis e o relatório de gestão, situação patrimonial e volume de negócios. Se constatada qualquer irregularidade, o conselho fiscal é acionado para agir imediatamente. A ideia é se antecipar a problemas e corrigir erros garantindo o bom funcionamento de todo o sistema.

5 – Sistema de proteção

Operado pela BRV, o Sistema de Proteção Cooperativista se baseia em um fundo mantido com contribuições dos bancos afiliados, usado para financiar medidas de prevenção e saneamento de problemas nas cooperativas, ou seja, para evitar que os bancos cooperativos quebrem.

Os aportes ao fundo são baseados na análise de risco de cada coop: bancos com maior risco pagam percentuais maiores, acima do valor de referência, uma estratégia para estimular a regularização rápida de problemas.

Atuando de forma integrada com a auditoria cooperativa, a BRV trabalha para evitar que a confiança do mercado alemão nas instituições cooperativas seja prejudicada. A entidade pode sugerir alterações da política de negócios de um banco cooperativo, exigir projetos de reestruturação e até excluir uma coop do sistema de proteção.

Os resultados dessa atuação são mais de 85 anos sem registro de quebra entre as cooperativas de crédito alemãs e o elevado grau de confiança dos clientes — sem nenhuma corrida aos bancos do sistema em tempos de crise.

Fonte: Confebras

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