Como educar a geração Y

Creio que muitos professores enfrentam o mesmo questionamento que me tem atormentado: como lidar com os jovens nascidos após 1980, que nasceram em mundo dominado pela tecnologia, pelos games, celulares, TV a cabo, internet, e cresceram em contato com culturas, hábitos e realidades completamente diversas daquelas que o cercam em sua vida.  

Há algum tempo estudo o comportamento desta geração que não tem paciência para coisas longas e demoradas, que busca gratificação instantânea e feedback contínuo e não lida bem com promessas futuras. A maior parte da literatura que aborda a geração Y é escrita por autores americanos, portanto relaciona-se com uma realidade diferente daquela que encontramos em nosso cotidiano. Como pesquisador da relação entre a educação e o mercado de trabalho, busquei identificar se as características apontadas pelos autores americanos podem ser encontradas em nossos jovens, em especial entre os jovens da Classe C, que representam grande parte de nossos alunos. por meio de uma pesquisa realizada com mais de 300 alunos de uma universidade particular situada na Zona Leste de São Paulo.

Rebecca Ryan, no livro Millenial Leaders (ed. Morgan-James, 2008) destaca cinco pontos fundamentais para os jovens Y manterem-se motivados e se dediquem a algo, seja ao ensino, seja a carreira. Relaciono a seguir estes pontos aos dados coletados na pesquisa realizada.

  1. Voz: a geração Y quer ser ouvida, quer que sua opinião seja respeitada. A pesquisa aponta que 84,9% dos jovens acredita que o poder deve ser coletivo e 84,3% busca um ambiente de estudo e trabalho justo, no qual suas idéias e opiniões sejam ouvidas. 
  2. Participação: Querem fazer parte de algo que tenha significado, algo que tenha impacto sobre as pessoas, o ambiente e a sociedade. A pesquisa aponta que 79,7% dos jovens se considera idealista e sonha com um mundo mais justo e 69,5% se consideram engajados em questões sociais. 
  3. Significado: Os jovens Y se importam com mais coisas do que somente o lado financeiro da vida. Querem que a escola ou empresa sejam responsável socialmente e ambientalmente. No grupo pesquisado, 80,6% dos jovens quer fazer parte de um grupo preocupado com a sociedade e o ambiente. 
  4. Desenvolvimento pessoal: Estão abertos a aprender as ferramentas, tecnologias e competências necessárias para executar suas atividades atuais e para crescer pessoal e profissionalmente: 86,8% acredita no futuro e no seu papel na construção dele; 82,8% acha que lida bem com as mudanças; 86,8% deseja aprender continuamente. 
  5. Reconhecimento: professores não podem esquecer que educar envolve a constante motivação de seus alunos. Neste ponto, a situação se complica.

O que concluo a partir da pesquisa é que nossos jovens, mesmo aqueles provenientes da Classe C apresentam várias das características identificadas nos jovens americanos e apontadas pelos autores que escrevem sobre o tema.

Mas o que chama atenção é a distância entre as expectativas destes jovens e a realidade que eles encontram na escola e no mercado de trabalho.

Alegre e descontraído, os jovens da Geração Y não se importam com hierarquia. Gostam de conviver com pessoas com as quais se identificam, acreditam no trabalho em equipe e no poder compartilhado e coletivo. Não é que sejam insubordinados: a verdade é que não se adaptam a regras rígidas.

E o que acontece quando este jovem chega a um ambiente escolar marcado pela hierarquia, formalidade, por normas e regras rígidas que orientam a roupa que deve ser usada, o linguajar adequado, que determina ate mesmo com quem e quando se pode falar? Em um lugar onde o acesso a internet e as redes sociais são bloqueadas, pois “atrapalham” o desenvolvimento da aula. No qual a criatividade e a dedicação têm hora e local para acontecer? O que não podemos deixar de entender é que as mudanças trazidas pela chegada da Geração Y não são passageiras. A medida que mais e mais jovens iniciem cheguem a idade escolar, e posteriormente ao mercado de trabalho e assumam cargos de liderança, as escolas e empresas precisarão se adaptar a esta geração vibrante, conectada e inquieta.

Texto de Fabiano Caxito

Fonte: Administradores.com.br

1 comentário

  1. O texto tem muita da nossa realidade! mesmo no interior, em muitos casos esta inserido, principalmente nos pontos que se referem a “voz”e “participação”, pois, quando são convidados a engajarem-se em ulguma atividade e esta for do interesse destes o apoio acontece incondicionalmete.
    Toda a sociedade precisa adptar-se a esta geração jovem que será o futuro e este caminho necessita ser planejado e trabalhado.

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